Teologia: Doutrina de Deus



I. DEFINIÇÕES DE DEUS:

A) Definição Filosófica de Platão: Deus é o começo, o meio e o  fim de  todas as coisas.  Ele  é  a mente  ou  razão  suprema;  a  causa  eficiente  de  todas  as  coisas; eterno,  imutável, onisciente, onipotente; tudo permeia e tudo controla; é  justo, santo,  sábio e bom; o absolutamente perfeito, o  começo de  toda a  verdade, a fonte de toda a lei e justiça, a origem de toda a ordem e beleza e, especialmente, a causa de todo o bem.

B)  Definição  Cristã  do  Breve  Catecismo:  Deus  é  um  Espírito,  infinito,  eterno  e imutável em Seu Ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade.

C) Definição Combinada: Deus é um espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas  tem  sua  origem,  sustentação  e  fim  (Jo.4:24;  Ne.9:6;  Ap.l:8;  Is.48:12; Ap.1:17).

D) Definições Bíblicas: As expressões "Deus é Espírito"  (Jo.4:24) e "Deus é Luz " (IJo.1:5),  são  expressões  da  natureza  essencial  de  Deus,  enquanto  que  a expressão "Deus é amor" (IJo.4:7) é expressão de Sua personalidade. (ITm.6:16)

 

II. ESSÊNCIA OU NATUREZA DE DEUS:

Quando  falamos  em  essência  de  Deus,  queremos  significar  tudo  o  que  é essencial ao Seu Ser como Deus, isto é, substância e atributos.

 

A) Substância de Deus:

1) Há duas substâncias: matéria e espírito.

2) Deus  é  uma  substância  simples:  A  substância  de Deus  é  puro  espírito,  sem mistura com a matéria (Jo.4:24).

B) Atributos de Deus:

Sua  substância  é  Espírito  e  Seus  atributos  são  as  qualidades  ou  propriedades dessa substância. Atributos é a manifestação do Ser de Deus.

 

III. CLASSIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS:

 

A)  Naturais  e  Morais:  Também  chamados  de  "intransitivos  e  transitivos", "incomunicáveis e comunicáveis", "absolutos e relativos", "negativos e positivos" ou "imanentes e emanentes".

B) Atributos Naturais:

1)  Vida:  Deus  tem  vida;  Ele  ouve,  vê,  sente  e  age,  portanto  é  um  Ser  vivo (Jo.10:10; Sl.94:9,l0; IICr.16:9; At.14:15; ITs.1:9). Quando a Bíblia fala do olho, do ouvido,  da mão  de  Deus,  etc.,  fala metaforicamente.  A  isto  se  dá  o  nome  de antropomorfismo. Deus é vida (Jo.5:26; 14:26) e o princípio de vida (At.17:25,28).

 

2)  Espiritualidade: Deus,  sendo  Espírito,  é  incorpóreo,  invisível,  sem  substância material, sem partes ou paixões físicas e, portanto, é livre de todas as limitações temporais  (Jo.4:24; Dt.4:15‐19,23; Hb.12:9;  Is.40:25; Lc.24:39; Cl.1:15;  ITm.1:17; IICo.3:17)

 

3)  Personalidade:  Existência  dotada  de  auto‐consciência  e  auto‐determinação (Ex.3:14; Is.46:11).

a) Volição ou vontade = querer (Is.46:10; Ap.4:11).

b) Razão ou intelecto = pensar (Is.14:24; Sl.92:5; Is.55:8).

c) Emoção ou sensibilidade = sentir (Gn.6:6, IRs.11:9, Dt.6:15; Pv.6:16; Tg.4:5)

4) Tri‐Unidade:

a) Unidade de Ser: Há no Ser divino apenas uma essência  indivisível. Deus é um em sua natureza constitucional. A palavra hebraica que significa um no sentido absoluto  é  yacheed  (Gn.22:2),  isto  é,  uma  unidade  numérica  simples.  Essa palavra não é empregada para expressar a unidade da divindade. A unidade da divindade  é  ensinada  nas  palavras  de  Jesus:  Eu  e  o  Pai  somos  um.  (Jo.10:30). Jesus  está  falando  da  unidade  da  essência  e  não  de  unidade  de  propósito.

(Jo.17:11,21‐23, IJo.5:7)

b) Trindade de Personalidade: Há  três Pessoas no Ser divino: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra hebraica que significa um no sentido de único é echad que se refere a uma unidade composta. Esta palavra é empregada para expressar a unidade da divindade. Esta palavra é usada em Dt.6:4; Gn.2:24 e Zc.14:9 (Veja também  Dt.4:35;32:39;  ICr.29:1;  Is.43:10;44:6;45:5;  IRs.8:60;  Mc.10:9;12:29; ICo.8:5,6; ITm.2:5; Tg.2:19; Jo.17:3; Gl.3:20; Ef.4:6).

c)  Elohim:  Este  nome  está  no  plural  e  não  concorda  com  o  verbo  no  singular quando designativo de Deus (Gn.1:26;3:22; 11:6,7;20:13;48:15; Is.6:8)

d) Há distinção de Pessoas na Divindade: Algumas passagens mostram uma das Pessoas  divinas  se  referindo  à  outra  (Gn.19:24;  Os.1:7;  Zc.3:1,2;  IITm.1:18; Sl.110:1; Hb.1:9).

 

5) Auto‐Existência:  Jerônimo disse: Deus é a origem de Si mesmo e a  causa de Sua  própria  substância.  Jerônimo  estava  errado,  pois  Deus  não  tem  causa  de existência, pois não criou a Si mesmo e não foi causado por outra coisa ou por Si mesmo; Ele nunca teve  início. Ele é o Eterno EU SOU (Ex.3:14), portanto Deus é absolutamente  independente de  tudo  fora de  Si mesmo para a  continuidade e perpetuidade  de  Seu  Ser.  Deus  é  a  razão  de  sua  própria  existência  (Jo.5:26;

At.17:24‐28; ITm.6:15,16).

 

6)  Infinidade  ou  Perfeição  É  o  atributo  pelo  qual  Deus  é  isento  de  toda  e qualquer  limitação  em  seu  Ser  e  em  seus  atributos  (Jó.11:7‐10;  Mt.5:48).  A infinidade  de  Deus  se  contrasta  com  o  mundo  finito  em  sua  relação  tempo‐espaço.

a)  Eternidade:  A  infinidade  de  Deus  em  relação  ao  tempo  é  denominada eternidade.  Deus  é  Eterno  (Sl.90:2;  102:12,24‐27;  Sl.93:2;  Ap.1:8;  Dt.33:27; Hb.1:12). A  eternidade de Deus não  significa  apenas duração prolongada, para frente e para traz, mas sim que Deus transcende a todas as limitações temporais (IIPe.3:8) existentes em sucessões de tempo. Deus preenche o tempo. Nossa vida se  divide  em  passado,  presente  e  futuro. mas  não  há  essa  divisão  na  vida  de Deus. Ele é o Eterno EU SOU. Deus é elevado acima de todos os limites temporais e de  toda a  sucessão de momentos, e  tem a  totalidade de  sua existência num único presente indivisível (Is.57:15).

b)  Imensidão:  A  infinidade  de  Deus  em  relação  ao  espaço  é  denominada imensidão  ou  imensidade.  Deus  é  imenso  (Grande  ou  Majestoso;  Jó.36:5,26; Jó.37:22,23;  Jr.22:18;  Sl.145:3).  Imensidão  é  a  perfeição  de Deus  pela  qual  Ele transcende  (ultrapassa)  todas  as  limitações  espaciais  e,  contudo  está  presente em todos os pontos do espaço com todo o seu Ser PESSOAL (não é panteísmo). A imensidão  de  Deus  é  intensiva  e  não  extensiva,  isto  é,  não  significa  extensão

ilimitada no espaço, como no panteísmo. A  imensidão de Deus é transcendente no  espaço  (intramundano  ou  imanente  =  dentro  do  mundo ‐  Sl.139:7‐12; Jr.23:23,24) e fora do espaço (supramundano = acima do mundo; extramundano = além do mundo; emanente = fora do mundo ‐ IRs.8:27; Is.57:15).

c)  Onipresença:  É  quase  sinônimo  de  imensidão:  A  imensidade  denota  a transcendência no espaço enquanto que a onipresença denota a  imanência no espaço.  Deus  é  imanente  em  todas  as  Suas  criaturas  e  em  toda  a  criação.  A imanência não deve  ser  confundida  com o panteísmo  (tudo  é Deus) ou  com o deísmo  que  ensina  que  Deus  está  presente  no mundo  apenas  com  seu  poder (per portentiam) e não com a essência e natureza de  ser Ser  (per essentiam et naturam)  e que  age  sobre  o  mundo  à  distância.  Deus  ocupa  o  espaço repletivamente porque preenche todo o espaço e não está ausente em nenhuma parte  dele,  mas  tampouco  está  mais  presente  numa  parte  que  noutra (Sl.139:11,12).  Deus  ocupa  o  espaço  variavelmente  porque  Ele  não  habita  na terra  do mesmo modo  que  habita  no  céu,  nem  nos  animais  como  habita  nos

homens, nem nos  ímpios como habita nos piedosos, nem na  igreja como habita em Cristo (Is.66:1; At.17:27,28; Compare Ef.1:23 com Cl.2:9).

7) Imutabilidade É o atributo pelo qual não encontramos nenhuma mudança em Deus, em sua natureza, em seus atributos e em seu conselho.

a) A "base" para a  imutabilidade de Deus: É Sua simplicidade, eternidade, auto‐existência e perfeição. Simplicidade porque sendo Deus uma substância simples, indivisível, sem mistura, não está sujeito a variação (Tg.1:17). Eternidade porque Deus não está  sujeito às  variações e  circunstâncias do tempo, por  isso Ele não muda  (Sl.102:26,27; Hb.1:12 e 13:8). Auto‐existência porque uma vez que Deus

não  é  causado, mas  existe  em  Si mesmo,  então  Ele  tem  que  existir  da  forma como  existe,  portanto  sempre  o  mesmo  (Ex.3:14).  E  perfeição  porque  toda mudança tem que ser para melhor ou pior e sendo Deus absolutamente perfeito jamais poderá ser mais sábio, mais santo, mais justo, mais misericordioso, e nem menos. Por isso Deus é imutável como a rocha (Dt.32:4).

b)  Imutabilidade  não  significa  imobilidade:  Nosso  Deus  é  um  Deus  de  ação (Is.43:13).

c)  Imutabilidade  implica  em  não  arrependimento:  Alguns  versículos  falam  de Deus como se Ele se arrependesse  (Ex.32:14,  IISm.24:16,  Jr.18:8;  Jl.2:13). Trata‐se de antropomorfismo (Nm.23:19; Rm.11:29; ISm.15:29; Sl.110:4).

d) Imutabilidade de Deus em Sua natureza: Deus é perfeito em sua natureza por isso não muda nem para melhor nem para pior (Ml.3:6).

e) Imutabilidade de Deus em Seus atributos: Deus é imutável em suas promessas (IRs.8:56;  IICo.1:20);  em  sua  misericórdia  (Sl.103:17;  Is.54:10);  em  sua  justiça (Ez.8:18); em seu amor (Gn.18:25,26).

f)  Imutabilidade de Deus em  Seu  conselho: Deus planejou os  fatos  conforme a sua vontade e decretou que este plano seja concretizado. Nada poderá se opor à sua vontade. O próprio Deus  jamais mudará de opinião, mas  fará conforme seu plano predeterminado (Is.46:9,10; Sl.33:11; Hb.6:17).

8) Onisciência Atributo pelo qual Deus, de maneira inteiramente única, conhece‐se a Si próprio e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples. O conhecimento de Deus tem suas características:

a) É arquétipo: Deus  conhece o universo  como ele existe em  Sua própria  idéia anterior  à  sua  existência  como  realidade  finita  no  tempo  e  no  espaço;  e  este conhecimento não é obtido de fora, como o nosso (Rm.11:33,34).

b) É  inato e  imediato: Não  resulta de observação ou de processo de  raciocínio (Jó.37:16)

c) É simultâneo: Não é sucessivo, pois Deus conhece as coisas de uma vez em sua totalidade, e não de forma fragmentada uma após outra (Is.40:28).

d)  É  completo:  Deus  não  conhece  apenas  parcialmente,  mas  plenamente consciente (Sl.147:5).

e)  Conhecimento  necessário:  Conhecimento  que  Deus  tem  de  Si mesmo  e  de todas as coisas possíveis, um conhecimento que  repousa na consciência de sua onipotência. É chamado necessário porque não é determinado por uma ação da vontade  divina.  (Por  exemplo:  O  conhecimento  do  mal  é  um  conhecimento necessário  porque  não  é  da  vontade  de  Deus  que  o  mal  lhe  seja  conhecido (Hc.1:13)  Deus  não  pode  nem  quer  ver  o  mal,  mas  o  conhece,  não  por experiência,  que  envolve  uma  ação  de  Sua  vontade,  mas  sim  por  simples inteligência, por  ser ato do  intelecto divino  (veja  IICo.5:21 onde o  termo grego ginosko é usado).

f) Conhecimento livre: É aquele que Deus tem de todas as coisas reais, isto é, das coisas que existiram no passado, que existem no presente e existirão no futuro. É também chamado visionis, isto é, conhecimento de vista.

g) Presciência: Significa conhecimento prévio; conhecimento de antemão. Como Deus  pode  conhecer  previamente  as  ações  livres  dos  homens?  Deus  decretou todas as coisas, e as decretou com suas causas e condições na exata ordem em que  ocorrem,  portanto  sua  presciência  de  coisas  contingentes  (ISm.23:12; IIRs.13:19;  Jr.38:17‐20;  Ez.3:6  e Mt.11:21)  apoia‐se  em  seu  decreto.  Deus  não originou  o  mal  mas  o  conheceu  nas  ações  livres  do  homem  (conhecimento

necessário),  o  decretou  e  preconheceu  os  homens.  Portanto  a  ordem  é: conhecimento  necessário,  decreto,  presciência.  A  presciência  de Deus  é muito mais do que saber o que vai acontecer no futuro, e seu uso no N.T. é empregado como  na  LXX  que  inclui  Sua  escolha  efetiva  (Nm.16:5;  Jz.9:6;  Am.3:2).  Veja Rm.8:29; IPe.1:2; Gl.4:9. Como se processou o conhecimento necessário de Deus nas  livres  ações  dos  homens  antes mesmo  que  Ele  as  decretasse? A  liberdade humana  não  é  uma  coisa  inteiramente  indeterminada,  solta  no  ar,  que  pende numa ou noutra direção, mas é determinada por nossas próprias considerações intelectuais  e  caráter  (lubentia  rationalis  =  auto‐determinação  racional). Liberdade  não  é  arbitrariedade  e  em  toda  ação  racional  há  um  porquê,  uma razão  que  decide  a  ação.  Portanto  o  homem verdadeiramente  livre  não  é  o  homem incerto e imprevisível, mas o homem seguro. A liberdade tem suas leis ‐ leis espirituais ‐ e a Mente Onisciente sabe quais são (Jo.2:24,25). Em resumo, a resciência é um conhecimento  livre (scientia  libera) e,  logicamente procede do decreto, "...segundo o decreto sua vontade" (Ef.1:11).

h)  Sabedoria:  A  sabedoria  de  Deus  é  a  Sua  inteligência  como manifestada  na adaptação de meios e  fins. Deus  sempre busca os melhores  fins e os melhores meios  possíveis  para  a  consecução  dos  seus  propósitos.  H.B.  Smith  define  a sabedoria de Deus como o Seu atributo através do qual Ele produz os melhores resultados  possíveis  com  os  melhores  meios  possíveis.  Uma  definição  ainda melhor há de incluir a glorificação de Deus: Sabedoria é a perfeição de Deus pela qual Ele aplica o seu conhecimento à consecução dos seus fins de um modo que o glorifica o máximo  (Rm.ll:33‐36; Ef.1:11,12; Cl.1:16). Encontramos a sabedoria de Deus na criação (Sl.19:1‐7; Sl.104), na redenção (ICo.2:7; Ef.3:10) . A sabedoria é personificada na Pessoa do Senhor Jesus (Pv.8 e ICo.1:30; Jó.9:4; veja também Jó 12:13,16).

9) Onipotência  É o  atributo pelo qual  encontramos  em Deus o poder  ilimitado para fazer qualquer coisa que Ele queira. A  onipotência  de  Deus  não  significa  o  exercício  para  fazer  aquilo  que  é

incoerente com a natureza das coisas, como, por exemplo, fazer que um fato do passado não tenha acontecido, ou traçar entre dois pontos uma linha mais curta do que uma  reta. Deus possui  todo o poder que é coerente com Sua perfeição infinita, todo o poder para fazer tudo aquilo que é digno dEle. O poder de Deus é distinguido de duas maneiras:

‐ Potentia Dei absoluta = absoluto poder de Deus e potentia Dei ordinata = poder ordenado de Deus.

‐ Hodge  e  Shedd  definem  o  poder  absoluto  de Deus  como  a  eficiência  divina, exercida sem a  intervenção de causas secundárias, e o poder ordenado como a eficiência de Deus, exercida pela ordenada operação de causas secundárias.

‐ Chanock define o poder absoluto como aquele pelo qual Deus é capaz de fazer o que Ele não fará, mas que tem possibilidade de ser feito, e o poder ordenado como o poder pelo qual Deus faz o que decretou fazer, isto é, o que Ele ordenou ou marcou para ser posto em exercício; os quais não são poderes distintos, mas um e o mesmo poder. O seu poder ordenado é parte do seu poder absoluto, pois se Ele não  tivesse poder para  fazer  tudo que pudesse desejar, não  teria poder para  fazer tudo o que Ele deseja. Podemos, portanto, definir o poder ordenado de Deus  como  a  perfeição  pela  qual  Ele, mediante  o  simples  exercício  de  Sua vontade, pode realizar tudo quanto está presente em Sua vontade ou conselho. E' óbvio, porém, que Deus pode  realizar coisas que a Sua vontade não desejou realizar  (Gn.18:14;  Jr.32:27;  Zc.8:6;  Mt.3:9;  Mt.26:53).  Entretanto  há  muitas coisas que Deus não pode realizar. Ele não pode mentir, pecar, mudar ou negar‐se  a  Si mesmo  (Nm.23:19;  ISm.15:29;  IITm.2:13;  Hb.6:18;  Tg.1:13,17;  Hb.1:13; Tt.1:3),  isto  porque  não  há  poder  absoluto  em  Deus,  divorciado  de  Sua perfeições,  e  em  virtude  do  qual  Ele  pudesse  fazer  todo  tipo  de  coisas contraditórias  entre  Si  (Jó.11:7).  Deus  faz  somente  aquilo  que  quer  fazer (Sl.115:3; Sl.135:6).

a) El‐Shaddai: A onipotência de Deus  se expressa no nome hebraico El‐Shaddai traduzido por Todo‐Poderoso (Gn.17:1; Ex.6:3; Jó.37:23 etc).

b) Em todas as coisas: A onipotência de Deus abrange todas as coisas (ICr.29:12), o domínio sobre a natureza  (Sl.107:25‐29; Na.1:5,6; Sl.33:6‐9;  Is.40:26; Mt.8:27; Jr.32:17; Rm.1:20), o domínio  sobre a experiência humana  (Sl.91:1; Dn.4:19‐37; Ex.7:1‐5;  Tg.4:12‐15;  Pv.21:1;  Jó.9:12;  Mt.19:26;  Lc.1:37),  o  domínio  sobre  as regiões celestiais (Dn.4:35; Hb.1:13,14; Jó.1:12; Jó 2:6).

c) Na  criação,  na  providência  e  na  redenção: Deus manifestou  o  seu  poder  na

criação  (Rm.4:17;  Is.44:24),  nas  obras  da  providência  (ICr.29:11,12)  e  na redenção (Rm.1:16; ICo.1:24).

10)  Soberania  ou  Supremacia  Atributo  pelo  qual  Deus  possui  completa autoridade  sobre  todas  as  coisas  criadas,  determinando‐lhe  o  fim  que  desejar (Gn.14:19; Ne.9:6;  Ex.18:11;  Dt.10:14,17;  ICr.29:11;  IICr.20:6;  Jr.27:5;  At.17:24‐26; Jd.4; Sl.22:28; 47:2,3,8; 50:10‐12; 95:3‐5; 135:5; 145:11‐13; Ap.19:6).

a) Vontade ou Auto‐determinação: A perfeição de Deus pela qual Ele, num ato sumamente  simples, dirige‐se à Si mesmo  como o Sumo Bem  (deleita‐se em Si mesmo  como  tal)  e  às  Suas  criaturas  por  amor  do  Seu  nome  (Is.48:9,11,14; Ez.20:9,14,22,44; Ez.36:21‐23).

A  vontade  de  Deus  recebe  variadas  classificações,  pois  à  ela  são  aplicadas diferentes  palavras  hebraicas  (chaphets,  tsebhu,  ratson)  e  gregas  (boule, thelema).

‐ Vontade  Preceptiva: Na  qual Deus  estabeleceu  preceitos morais  para  reger  a vida  de  Suas  criaturas  racionais.  Esta  vontade  pode  ser  desobedecida  com freqüência (At.13:22; IJo.2:17; Dt.8:20).

‐  Vontade  Decretória:  Pela  qual  Deus  projeta  ou  decreta  tudo  o  que  virá  a acontecer, quer pretenda  realizá‐lo  causativamente, quer permita que  venha a ocorrer por meio da  livre ação de suas criaturas (At.2:23;  Is.46:9‐11). A vontade decretória  é  sempre  obedecida.  A  vontade  decretória  e  a  vontade  preceptiva relacionam‐se ao propósito em realizar algo.

‐ Vontade de Eudokia: Na qual Deus deleita‐se com prazer em realizar um fato e com  desejo  de  ver  alguma  coisa  feita.  Esta  vontade,  embora  não  se  relacione com  o  propósito  de  fazer  algo, mas  sim  com  o  prazer  de  fazer  algo,  contudo corresponde  àquilo  que  será  realizado  com  certeza,  tal  como  acontece  com  a vontade decretória (Sl.115:3; Is.44:28; Is.55:11).

‐ Vontade de Eurestia: Na qual Deus deleita‐se com prazer ao vê‐la cumprida por Suas criaturas. Esta vontade abrange aquilo que a Deus apraz que Suas criaturas façam,  mas  que  pode  ser  desobedecido,  tal  como  acontece  com  a  vontade preceptiva (Is.65:12).

‐ A vontade de eudokia não se refere somente ao bem, e nela não está sempre presente o elemento de deleite (Mt.11:26). A vontade de eudokia e a vontade de eurestia relacionam‐se ao prazer em realizar algo.

‐ Vontade de Beneplacitum: Também chamada Vontade Secreta. Abrange todo o conselho  secreto  e  oculto  de  Deus.  Quando  esta  vontade  nos  é  revelada,  ela torna‐se  na  Vontade  do  Signum  ou  Vontade  Revelada.  A  distinção  entre  a  vontade  de  beneplacitum  e  a  vontade  de  signum  encontra‐se  em Deuteronomio.29:29.

‐  A  vontade  secreta  é mencionada  em  Sl.115:3;  Dn.4:17,25,32,35;  Rm.9:18,19; Rm.11:33,34;  Ef.1:5,9,11,  enquanto  que  a  vontade  revelada  é mencionada  em Mt.7:21; Mt.12:50;  Jo.4:34;  Jo.7:17;  Rm.12:2).  Esta  vontade  está mui  perto  de nós  (Dt.30:14; Rm.10:8). A vontade  secreta de Deus pertence a  todas as  coisas que  Ele  quer  efetuar  ou  permitir,  tal  como  acontece  na  vontade  decretória, sendo portanto, absolutamente fixa e irrevogável.

 

b)  Liberdade:  A  perfeição  de  Deus  no  exercício  de  Sua  vontade.  Deus  age necessária  e  livremente.  Assim  como  há  conhecimento  necessário  e conhecimento livre, há também uma voluntas necessária = vontade necessária e uma  voluntas  libera  =  vontade  livre. Na  vontade necessária Deus não  está  sob nenhuma  compulsão,  mas  age  de  acordo  com  a  lei  do  Seu  Ser,  pois  Ele necessariamente  quer  a  Si  próprio  e  quer  a  Sua  natureza  santa.  Deus ecessariamente  se  ama  a  Si  próprio  e  Suas  perfeições.  As  Suas  criaturas  são  objetos  de  Sua  vontade  livre,  pois  Deus  determina  voluntariamente  o  que  e quem Ele criará; e os tempos, lugares e circunstâncias de suas vidas. Ele traça as veredas de todas as Suas criaturas, determina o seu destino e as utiliza para Seus propósitos  (Jó.ll:10;  Jó.23:13,14;  Jó.33:13.  Pv.16:4;  Pv.21:1;  Is.10:15;  Is.29:16; Is.45:9; Mt.20:15; Ap.4:11;Rm.9:15‐22; ICo.12:11).

 

C) Atributos Morais:

1) Santidade: É a perfeição de Deus, em  virtude da qual Ele eternamente quer manter  e mantém  a  Sua  excelência moral,  aborrece  o  pecado,  e  exige  pureza moral em suas criaturas. Ser Santo vem do hebraico qadash que significa cortar ou separar. Neste sentido também o Novo testamento utiliza as palavras gregas hagiazo e hagios.

A  santidade  de Deus  possui  dois  diferentes  aspectos,  podendo  ser  positiva  ou negativa (Hb.1:9;Am.5:15; Rm.12:9).

a)  Santidade  Positiva:  Expressa  excelência  moral  de  Deus  na  qual  Ele  é absolutamente perfeito, puro e  íntegro em Sua natureza e Seu caráter  (IJo.1:5; Is.57:15; IPe.1:15,16; Hc.1:13). A santidade positiva é amor ao bem.

b)  Santidade  Negativa:  Significa  que  Deus  é  inteiramente  separado  de  tudo quanto  é  mal  e  de  tudo  quanto  o  aborrece  (Lv.11:43‐45;  Dt.23:14;  Jó.34:10; Pv.15:9,26;  Is.59:1,2;  Lc.20:26;  Hc.  1:13;  Pv.6:16‐19;  Dt.25:16;  Sl.5:4‐6).  A santidade negativa é ódio ao mal.

Além  de  possuir  dois  aspectos  a  santidade  de  Deus  possui  também  duas maneiras diferentes de manifestar‐se:

c) Retidão: Também chamada justiça absoluta, é a retidão da natureza divina, em virtude  da  qual  Ele  é  infinitamente  Reto  em  Si mesmo  (santidade  legislativa). Sl.145:17; Jr.12:1; Jo.17:25; Sl.116:5; Ed.9:15.

d)  Justiça:  Também  chamada  justiça  relativa,  é  a  execução  da  retidão  ou  a expressão da  justiça absoluta  (santidade  judicial). Strong a chama de  santidade  transitiva. A retidão é a fonte da Santidade de Deus, a  justiça é a demonstração de Sua santidade.

A  justiça  de  Deus  pode  ser  retributiva  e  remunerativa.  A  justiça  retributiva  se divide em punitiva e corretiva. A justiça punitiva é aquela pela qual Deus pune os pecadores pela transgressão de Suas  leis. Esta  justiça de Deus exige a execução das  penalidades  impostas  por  Suas  leis  (Sl.3:5;11:4‐7  Dt.32:4;  Dn.9:12,14;

Ex.9:23‐27;34:7). A  justiça corretiva é aquela pela qual Deus  "pune" Seus  filhos para  corrigi‐los  (Hb.12:6,7). Aqueles  que  não  são  Seus  filhos, Deus  pune  como um Juiz Severo (Rm.11:22; Hb.10:31), mas aos Seus filhos, Deus "pune" (corrige) como  um  Pai  Amoroso  (Jr.10:24;30:11;46:28;  Sl.89:30‐33;  ICr.21:13)  A  justiça remunerativa  é  aquela  pela  qual  Deus  recompensa,  com  Suas  bênçãos,  aos homens pela obediência de Suas leis (Hb.6:10; IITm.4:8; ICo.4:5;3:11‐15; Rm.2:6‐

10; IIJo.8)

e)  Ira:  Esta  deve  ser  considerada  como  um  aspecto  negativo  da  santidade  de Deus, pois em Sua ira Deus aborrece o pecado e odeia tudo quanto contraria Sua santidade  (Dt.32:39‐41;  Rm.11:22;  Sl.95:11;  Dt.1:34‐37;  Sl.95:11).  Podemos, então, dizer que a ira é a manifestação da santidade negativa de Deus (Rm.1:18; IITs.1:5‐10; Rm.5:9 etc). A ira é também designada de severidade (Rm.11:22).

2)  Bondade:  É  uma  concepção  genérica  incluindo  diversas  variedades  que  se distinguem  de  acordo  com  os  seus  objetos.  Bondade  é  perfeição  absoluta  e felicidade  perfeita  em  Si  mesmo  (Mc.10:18;  Lc.18:18,19;  Sl.33:5;  Sl.119:68; Sl.107:8; Na.1:7).

A bondade implica na disposição de transmitir felicidade.

a)  Benevolência:  É  a  bondade  de Deus  para  com  Suas  criaturas  em  geral.  E'  a perfeição de Deus que O  leva a tratar benévola e generosamente todas as Suas criaturas (Sl.145:9,15,16; Sl.36:6;104:21; Mt.5:45;6:26; Lc.6:35; At.14:17).  Thiessen define benevolência  como a afeição que Deus  sente e manifesta para com Suas criaturas  sensíveis e  racionais. Ela  resulta do  fato de que a criatura é obra  Sua;  Ele  não  pode  odiar  qualquer  coisa  que  tenha  feito  (Jó.14:15)  mas

apenas àquilo que foi acrescentado à Sua obra, que é o pecado (Ec.7:29).

 

b) Beneficência: Enquanto que a benevolência é a bondade de Deus considerada em  sua  intenção  ou  disposição,  a  beneficência  é  a  bondade  em  ação,  quando seus atributos são conferidos.

c) Complacência: É a aprovação às boas ações ou disposições. É aquilo em Deus que  aprova  todas  as  Suas  próprias  perfeições  como  também  aquilo  que  se conforma com Ele (Sl.35:27; Sl.51:6; Is.42:1; Mt.3:17; Hb.13:16).

d)  Longanimidade  ou  Paciência:  O  hebraico  emprega  a  palavra  erek'aph  que significa  grande  de  rosto  e  daí  também  lento  para  a  ira.  O  grego  emprega makrothymia  que  significa  ira  longe.  Portanto  longanimidade  é  o  aspecto  da bondade de Deus em virtude do qual Ele tolera os pecadores, a despeito de sua prolongada  desobediência.  A  longanimidade  revela‐se  no  adiamento do merecido julgamento (Ex.34:6; Sl.86:15; Rm.2:4; Rm.9:22; IPe.3:20; IIPe.3:15)

e) Misericórdia: Também expressa pelos sinônimos compaixão, compassividade, piedade, benignidade, clemência e generosidade. No hebraico usa‐se as palavras chesed e racham e no grego eleos. É a bondade de Deus demonstrada para com os  que  se  acham  na  miséria  ou  na  desgraça,  independentemente  dos  seus méritos  (Dt.5:10;  Sl.57:10;  Sl.86:5;  ICr.16:34;  IICr.7:6;  Sl.116:5;  Sl.136;  Ed.3:11; Sl.145:9; Ez.18:23,32; Ex.33:11; Lc.6:35; Sl.143:12; Jó 6:14).

A paciência difere da misericórdia apenas na consideração formal do objeto, pois a misericórdia considera a criatura como  infeliz, a paciência considera a criatura como criminosa; a misericórdia tem pena do ser humano em sua  infelicidade, a paciência  tolera o pecado que gerou a  infelicidade. A  infelicidade e  sofrimento deriva‐se  de  um  justo  desagrado  divino,  portanto  exercer misericórdia  é  o  ato divino  de  livrar  o  pecador  do  sofrimento  pelo  qual  ele  justamente  e

merecidamente deveria passar, como conseqüência do desagrado divino.

f)  Graça:  É  a  bondade  de  Deus  exercida  em  prol  da  pessoa  indigna.  Portanto graça é o ato divino de conceder ao pecador toda a bondade de Deus a qual ele não merece receber (Ex.33:19).

Na misericórdia Deus  suspende o  sofrimento merecido, na graça Deus concede bênçãos  não  merecidas.  Todo  pecador  merece  ir  para  o  inferno;  assim  Deus exerce  Sua misericórdia  livrando  o  pecador  da  condenação.  Nenhum  pecador merece  ir para o paraíso; assim Deus exerce a Sua graça doando ao pecador o privilégio de ir gratuitamente para o paraíso. Essa diferença entre misericórdia e graça é notada em relação aos anjos que não caíram.  Deus  nunca  exerceu  misericórdia  para  com  eles,  posto  que  jamais tiveram necessidade dela, pois não pecaram, nem ficaram debaixo dos efeitos da maldição. Todavia eles são objetos da  livre e soberana graça de Deus pela qual foram eleitos  (ITm.5:21) e preservados eternamente de pecado e colocados em posição de honra (Dn.7:10; IPe.3:22).

g) Amor: A perfeição da natureza divina pela qual Ele é continuamente impelido a  se  comunicar.  É,  entretanto,  não  apenas  um  impulso  emocional,  mas  uma afeição racional e voluntária, sendo fundamentada na verdade e santidade e no exercício  da  livre  escolha.  Este  amor  encontra  seus  objetos  primários  nas diversas Pessoas da Trindade. Assim, o universo e o homem são desnecessários para o exercício do amor de Deus. Amor é, portanto, a perfeição de Deus pela

qual Ele é movido eternamente à Sua própria comunicação. Ele ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua obra e Seus dons.

 

3) Verdade: É a consonância daquilo que é asseverado com o que pensa a Pessoa que  fez  a  asseveração. Neste  sentido  a  verdade  é  um  atributo  exclusivamente divino,  pois  com  freqüência  os  homens  erram  nos  testemunhos  que  prestam, simplesmente por estarem equivocados a respeito dos fatos, ou então por pura incapacidade fracassam em promessas que fizeram com honestas intenções. Mas a onisciência de Deus  impede que Ele chegue a cometer qualquer equívoco, e a sua  onipotência  e  imutabilidade  asseguram  o  cumprimento  de  Suas  intenções (Dt.32:4; Sl.119:142; Jo.8:26; Rm.3:4; Tt.1:2; Nm.23:19; Hb.6:18; Ap.3:7; Jo.17:3;

IJo.5:20;  Jr.10:10;  Jo.3:33;  ITs.1:9; Ap.6:10;  Sl.31:5;  Jr.5:3;  Is.25:1). Ao  exercê‐la para  com  a  criatura,  a  verdade  de  Deus  é  conhecida  como  sua  veracidade  e fidelidade.

a)  Veracidade:  Consiste  nas  declarações  que  Deus  faz  a  respeito  das  coisas, conforme  elas  são,  e  se  relaciona  com  o  que  Ele  revelou  sobre  Si mesmo.  A veracidade fundamenta‐se na onisciência de Deus.

b) Fidelidade: Consiste no exato cumprimento de Suas promessas ou ameaças. A fidelidade  fundamenta‐se  na  Sua  onipotência  e  imutabilidade  (Dt.7:9;  Sl.36:5; ICo.1:9; Hb.10:23;  Dt.4:24;  IITm.2:13;  Sl.89:8;  Lm.3:23;  Sl.119:138;  Sl.119:75; Sl.89:32,33; ITs.5:24; IPe.4:19; Hb.10:23).